18.12.10

Sobre Papai Noel, o meu carro da Barbie, e esses anjos incompreendidos que não me largam

Essa época do ano me deprime um pouco. Houve um tempo em que eu montava árvore de Natal. Já teve até um tempo que eu acreditava em Papai Noel. E eu me senti fodona quando desconfiei que não existia e disse pra minha irmã (mais velha): Aninha, eu acho que é nossa mãe que compra os presentes, vamos investigar? E saímos as duas detetives revirando a casa, enquanto a minha mãe estava no trabalho, até descobrir em cima do armário umas caixas escondidas onde estavam nossa casa e carro da Barbie! Aninha tinha pedido a casa. Eu, o carro. Engraçado que isso tem a ver com o que aconteceu com a gente. Aninha, assim que pôde, foi montar a casa dela. Eu comprei um carro, e só agora que tô procurando apartamento. Acho que eu sempre optei mais pela mobilidade do que pelas coisas fixas. As nossas opções na vida têm sempre muito a ver com a nossa personalidade. Eu prefiro ir e vir do que ter estar. Eu sou assim, esse ser em trânsito. Mas nessa época é tudo engarrafamento e eu acho isso um saco. Engarrafamento de carros e de pessoas. Eu que não saio pra comprar nada em shopping, uma sucursal do inferno! E tudo enfeitado, e todos forçando sorrisos, porque é quase uma obrigação essa coisa de “feliz Natal”. Um monte de família feliz tentando disfarçar as mágoas de toda a vida e preencher a ausência de um ano inteiro com peru de Natal e farofa, com tender e maionese. Até que depois de algumas cervejas ou taças de vinho alguém lança aquele comentário mortal e infalível para o constrangimento de todos, e o mal estar se instala. Sempre rola um comentário infeliz pra azedar aquela felicidade forçada engolida com a seco com nozes, castanhas e avelãs. Era bom acreditar em Papai Noel. Sem dúvida que era bom. Era bom acreditar em Deus. Isso também era bom. Mas só porque eu não tinha medo do inferno. Acho que sempre achei o capeta um cara bacana, uma espécie de anjo incompreendido. Ele era uma pouco mais parecido comigo. Mas era bom acreditar na possibilidade de Deus. Eu perdi a minha fé nas coisas impossíveis. Só acredito em anjos incompreendidos. Eu os vejo o tempo inteiro. Eles choram no banheiro e contam histórias de mulheres que se foram para o garçom do bar. Eles acordam no meio da madrugada assustados com um sonho bom e reviram a geladeira atrás de uma lata de cerveja. Eles se vestem de Papai Noel por alguns trocados pra comprar cigarros e uma dose de qualquer coisa forte, enquanto enganam crianças tolas que ainda acham que podem conseguir o que querem com uma cartinha para o Pólo Norte. Eles sabem que não conseguirão o que querem, não têm a quem pedir, mas continuam tentando. Esmurrando mesas e quebrando cinzeiros na parede. Chorando convulsivamente como a criança que não ganhou seu presente. Esquecida por Papai Noel, sem o colo de Deus, sem as mãos dos pais. Anjos incompreendidos sem inferno e sem céu, largados no mundo. Eu conheço essa gente. Tem a ver comigo. É o tipo de gente que se deprime um bocado essa época do ano. Sente saudades de uma época em que acreditava. E põe a culpa nos engarrafamentos.

6 comentários:

Anônimo disse...

eu tinha a piscina da Barbie... deve ser daí a minha irresponsabilidade...kkk ( não tenho carro e nem casa...) só quero é nadar... kkk
B-Ju

P.s - viajo quarta a noite. vamos nos ver antes???

evandro disse...

foda, hein? gosto da sua poesia, mas a sua prosa vai direto na veia. abraço. ass.: alguém cujo filho ainda crê em papai noel e se vê no dilema entre alimentar a ilusão e cochichar a verdade ao pé do ouvido enquanto ele come biscoito globo na praia.

Beatriz Provasi disse...

ai, juju, tô com amigdalite, vou ficar quieta até o cep pra recuperar a voz. mas se por acaso eu mudar de idéia e pintar no rio, te ligo. beijos!

oi evandro, deixa ele acreditar, é tão bom quando ainda podemos acreditar nas coisas... e depois acho que o bacana é deixar pistas pra ele descobrir sozinho e se sentir fodão com isso! beijos

Anônimo disse...

melhora, amiga. te cuida! e bom CEP para vc!!!

B-Juju

carlos massari disse...

cheguei nesse blog procurando um dos meus poemas preferidos o velho buk pra copiar e mandar pra pessoas. achei aqui. sensacional. serviço de ajuda à humanidade.

e concordo plenamente sobre natal, anjos e as pessoas. me sinto exatamente igual.

Beatriz Provasi disse...

q bom, carlos! se tava aqui tb deve ser um dos meus preferidos. valeu, beijos.