2.2.10

SEM JEITO

eu quero sussurrar e sai um berro
quero acariciar e cerro o punho
na hora do silêncio eu falo muito
e quando é pra falar, engulo a seco
era pra me esquivar, e eu levo o soco
na hora de xingar, rebenta o choro
se era pra ficar, eu fui embora
e quando era pra ir, eu me demoro
eu quero me esconder e me exponho
eu perco o jogo até se ele tá ganho
(não sei mais decifrar quem tá blefando)
acho que eu perdi o jeito
ando metendo os pés pelas mãos
nem os cães vira-latas querem mais papo comigo
até eles andam me evitando... (sentem o cheiro do perigo)
acho que eu perdi o faro
tô me jogando nas furadas
lugar errado, hora errada
tô vagando que nem um cão vira-lata
não, não, eles sabem se virar nas ruas!
tô vagando que nem um filhote de pombo com a asa quebrada
pombo não é passarinho, não é bonitinho, ninguém quer levar pra casa
então eu tô assim, triste e desengonçada
envergonhada dessa falta de jeito
querendo meter a cabeça num buraco
e dando cabeçada na parede
aturdida, desorientada
meio satélite fora de órbita
meio peixe fora d’água
sem saber se é hora de falar
ou se é melhor ficar calada
e eu já saquei que eu vou escolher a opção errada

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