23.10.07

Os Sertões, a batalha final

para Mariano Mattos Martins,
o corifeu (e autor do último verso)

a noite se descortina
última batalha em cena
o ato final se anuncia
e os olhos pedem sangue
numa guerra de cem anos
suas águas límpidas
escorrem dos aplausos
as palmas erguem taças
os dorsos vertem danças
todos os deuses são baco
cada corpo, um verso
a ciranda, epopéia costurada
no tear da madrugada
e assim não se faz a trégua
e assim se prolonga o ato
e da vertigem
se chega à queda
o trágico coro do fim do fim
cala com ar nos pulmões
suspiro do corifeu, alívio do coro
o canto tomado de fôlego novo
até o fechar dos portões trás de si
de repente
contornos da noite nos olhos
face à calma clara do dia
mas de repente
há coro no cantar dos galos
colheres, xícaras, bocejos, ah...
há uma orquestra
nas cristas do que desperta
ainda contida, mas viva
mais viva,
gira a ciranda nas bordas do sol
cavalos alados crinas ao vento
a vigília onírica dos incontidos
perfura névoas de claridade
pra lavar de música
a face seca do asfalto
e enfim, a fina chuva os leva:
“bárbaros amanhecidos”

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