11.10.07

Um certo sertão

p/ Zé Celso Martinez Corrêa e atores do Oficina

O enorme caralho que solta fumaça branca quando goza, paus e bucetas quase sempre à mostra, punheta a jorrar esperma, siriricas mil, oral e coisa e tal. Não é só isso que define o que vi, como quereriam os (falsos)moralistas que o condenam. Zé Celso em ação. Ritual. Multidão. Sentir-se parte. Sentir-se todo. Sentir o corpo do ator. Sentir a pulsação do público. Sentir fome, sede, vontade de ir ao banheiro e segurar até a bexiga quase estourar. Ficar seis, sete horas lá. As vinte e seis direto se duvidar! A alma nua, com a roupa do corpo ou não, entregue em oferenda para a multidão. Sentir no rosto a chuva que molha o chão seco do sertão. Mergulhar nas ondas do mar. Ser rio ou correnteza. Ser vereda. Pássaro ou espinho. Sentir na pele o calor das queimadas. Ver o homem que fode a terra em que se funda. Zé Celso conclamar a reconstrução de Canudos, nos chamando para ir lá. Querer ir lá. 29 de novembro, ele disse, a 2 de dezembro. Será que cabe na agenda? Fui. Embarquei nessa viagem aos sertões de Euclides da Cunha, levada pelo Zé da Oficina. Caí no meio de um campo de batalha. Estrondos, explosões, brigada anti-incêndio em alerta. Sangue, mutilações. Caem uma, duas, três expedições. Canudos resiste. Até o fim. Até seu último combatente cair morto, na quarta. Cinzas. Sentir a morte do sertanejo. O abandono dos soldados mutilados. Sentir também tesão. Mais que isso, sentir paixão! Sentir no olhar de cada ator toda a paixão que move o grupo e se apaixonar, querer ser mais uma roda a girar nessa engrenagem. Viver o teatro na carne. Fazer da carne viva teatro. Antropofagiar-se. Se entregar. Sem medos ou máscaras. Cair na dança. Quadrilha. Ciranda. Samba. Funk. Ser um movimento nos movimentos. Sentir o vento. Ou o sol rachar. Marchar; Marchar; Marchar; Murchar. Evaporar-se na seca. Delirar. Ouvir o canto das bacantes ou de Iemanjá. Se deixar levar. O amor por princípio. O amor!... O ritual indescritível dos beijos e afagos, a coisa mais linda! Apoteótico. Hipnótico. Transcendental. Como definir o que vi, vivi? “Os sertões” não é uma peça de teatro. É uma ação teatral. É um acontecimento. Ou você vive. Ou você não viu. “Os sertões” se prolonga na sua vida muito mais que as tantas horas que o limitam no espaço. Vou-me embora pra Canudos! Simbora, Zé! Chegou a hora do desmassacre! A hora do amor chegou! E antes que eu me esqueça, MERDA!!!

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