9.12.08

Do útero não lembro nada.
Tenho uma fantasia
Um ponto luminoso que quica de parede em parede
e de repente
te cai no mar.
Da minha casa tenho as referências
Do bonito do inteligente
Do como devo ser e não sou.
Escolho ser educado, um gentleman!
Agradável, doce no falar
E carente no olhar.
Tenho um desejo escondido.
Voar nas costas de uma borboleta.
Sentir o vento no rosto
E nunca ter um objetivo certo,
Um porto-destino.
Queria mesmo era recolher a âncora,
rasgar o peito
Ver todo meu pranto vermelho derramado,
e nele sim,
levantar as velas.
E me ser eu, eu pra ti
sem pensar, sem ponderar
gestos nem navalhas.
Mostrar meu corte ainda aberto
E não deixar secar minha lágrima.
Queria ser carregado pela mão,
não pr’um campo verde.
Mas, pro meio de um turbilhão
E lá no centro te pegar pela mão
e rodopiar.
Brincar de ser eu o teu dono.
De ser eu a borboleta.

Eu disse não ser mas talvez seja
talvez eu não me perceba
que no sonho a voar nas asas de uma borboleta
seja eu o pássaro a voar mais alto
o que não se sabe
que caiu do ninho
ainda pequenino, e agora sempre sozinho
asas quebradas, ferida aberta
sem saber que ainda é canto
o que meu chorar
que é sempre canto
o meu lamento
que eu canto e vôo, passarinho
mas penso que passo, no meu canto, sozinho,
sem que ninguém me perceba passar

Fernando Klipel e Beatriz Provasi

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