29.9.08

uma coisa qualquer

tem uma coisa qualquer
um desassossego
tem um mar que se agita na ponta dos dedos
uma onda que quebra nas veias
tem uma pulsação nos cílios
tem um fogo nas bochechas
e nos olhos, mil centelhas
tem um bicho faminto
que passeia
uma fera
que contempla a paisagem
uma sereia
que não se sabe
e caminha passo a passo pela areia...
tem um ator numa orelha
na outra, um personagem
às vezes não se escutam
falta direção
mas eles vão...
o que importa é a viagem!...
a porta aberta dando passagem
seja para o que for
ou pra receber
pro que der e vier
tem formiga no pé
e um elefante no dorso
a asa vai no quadril
contornando sinuoso
qualquer ardil
tem uma coisa qualquer
uma angústia inquieta
uma calma forjada
um sorriso de esfinge
no meio da madrugada
tem uma coisa qualquer
um nariz que finge
e um joelho que entrega a charada
tem uma coisa qualquer
uma contradição na essência
e uma simplicidade imensa
tem uma coisa qualquer
tem algo que pulsa
tem algo que pensa
tem sempre uma coisa qualquer
intensa
tem sempre uma explicação pretensa
uma idéia avulsa
mas nunca se sabe exatamente o que é
essa coisa qualquer
que pensa e pulsa e finge e passeia
que não se sabe centelha, esfinge
essa coisa meio ator meio sereia
que só se vê de passagem
essa fera com fome de primavera
quando menos se espera
não é uma coisa qualquer
invento, alucinação, miragem
esse mar quebrando na veia
sem dizer a que veio
ou o que quer
só deixa visível na areia
um contorno da coisa
mulher



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