7.12.07

Canudos

Canudos foi uma experiência tão arrebatadora, tão intensa, tão fortemente presente ainda em mim, tão cravada na minha carne, tão profunda na minha alma, tão tão, que não consigo escrever. Não encontro palavras. Elas fogem. Restam as imagens. Tão fortes. Os sons, os cheiros, o ar seco, as nuvens de terra no vento, os corpos nus nas águas do açude, o gigantesco abraço da ciranda na praça, meu pé pisado, meu pé cortado, meu pé descalço, os pés no chão, a alma nas alturas, planando na imensidão do céu do sertão... Quando vi “Os sertões” no Rio, eu achava que a tinha vivido, mas apenas tinha visto a peça. “Os sertões”, em Canudos, eu vivi. Lá, “Os sertões” estavam em tudo, e não só na cena. Não havia esse limiar. Quando eu saía da platéia e levava rajadas de vento e terra no rosto pra comprar uma Caribé (cachaça), eu estava ainda n“Os sertões”. Quando eu aguardava no estádio o início da peça contemplando o pôr do sol, “Os sertões” já estavam lá. Havia “Os sertões” em todo o lugar. Era um continuum. Sem início e fim. Um eterno desenrolar... E se me virem por aí, não se enganem, eu ainda estou lá!

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