30.12.06

Meu laudo médico

Disseram-me que poetas são pessoas confusas e complicadas.
Se eu pudesse escolher, seria algo como um médico radiologista.
Eu veria o interior das pessoas sem precisar olhá-las nos olhos.
Daria um laudo sem precisar dirigir-lhes a fala.
E sumiria no labirinto de corredores frios e brancos sem deixar rastros de sangue ou de lágrimas pelo chão...
Eu seria simples e racional, como um gráfico, uma técnica, uma fórmula matemática.
Teria os olhos secos e frios de quem entrega a morte num envelope como cartão de natal.
Mas eu sou poeta, e tudo o que eu faço é quebrar a pele, rasgar o osso, trançar as veias, jorrar as vísceras pra fora quentes e vivas com todas as suas secreções de sangue e lágrimas manchando o chão, o teto, as paredes e todos os caminhos perdidos do teu labirinto enquanto eu vago a te procurar.

Este envelope que você traz nos olhos quando me olha, este envelope que você traz na boca quando me fala, este envelope contém a minha morte que você trás nas mãos quando me acena adeus.

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