28.8.12

nunca mais, não durmo

não durmo mais, nunca mais
já tingi um ray-ban de olheiras na cara
tenho o meu estoque de cigarros
para as madrugadas, todas as madrugadas
as manhãs, tardes, noites
e novamente as madrugadas
baixando músicas que nunca serão
a canção de ninar que eu preciso
Cazuza e Dylan arranham meus sorrisos
meus ouvidos, quis dizer meus ouvidos
vozes dissonantes no meu peito
lendo livros que me atiram palavras como tapas
não há tom de colo
nenhum som de passos cruzando a porta
e eu não fui pra rua, meu bem
não bebi essa noite nem deixei o carro
estacionado na boca de um poste
não me encolhi me escondi
não dormi embaixo da ponte
não causei nenhum estrago
não tropecei não beijei o meio-fio
não corri não gritei nem quis ser inconveniente
apenas sentei e esperei
pacientemente
e eu nunca mais
não durmo
desejando ser devorada
por algum dragão noturno

2 comentários:

Rodrigo disse...

Este poema poderia se chamar "desolation blues"... se já não houver uma música com esse nome. Muito, muito bom.

Beatriz Provasi disse...

valeu! vou considerar a dica, já q ele permanece sem título... beijos