7.8.12

brrrrrrrrrrrrrrrrrr...

Essas reformas constantes de quem tá sempre pondo a casa abaixo porque nunca tá suficientemente bom. Derrubamos as paredes com os pés e aí começa tudo de novo. Britadeiras, pequenas implosões, guindastes, guinchos, reboco, massa fumaça tijolo. Nunca tá bom. Aquela casa de madeira construída na árvore dos nossos sonhos de infância, eu perdi o endereço, as chaves, as escadas, a trilha de migalhas, todas as migalhas que me arranquei pra deixar no caminho, pra não me perder, meu corpo esfacelado pelo chão em algum lugar que eu não sei, por aí... pedaços dos meus dedos que eu tive o cuidado de cortar em pequenas partes iguais com um belo alicate, todos os fios dos meus cabelos, as rótulas dos joelhos, os cotovelos... tudo perdido por aí numa trilha... devorado por algum bicho voraz o tempo. Eu entretida demais nas reformas constantes de todas as casas novas. Trocando os móveis de lugar sem parar. Essa mesa vai prali onde tá o sofá, esse jarro do lado da janela, a janela embaixo do tampo de vidro da mesinha acho que vai ficar bom; duas portas no teto talvez, ou uma em cima da cama, a cama ali do lado do fogão de aquecimento automático, eu durmo na geladeira acho que vai ficar bom. E por aí tudo de novo e sempre recomeça. E as britadeiras... britadeiras em cima da cama, no computador, no sofá e na televisão, britadeiras em todos os livros das prateleiras músicas roupas jarros de planta mesinha de cabeceira. Coração; poeira, desarrumação. Britadeiras, britadeiras, britadeiras... – e não é tanto a dor, mas o som.

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