13.1.12

E A GENTE SEMPRE ESPERA PELO FINAL FELIZ

Gostaria que todo o medo fosse causado por uma sexta-feira 13, um gato preto, a distração de passar por debaixo da escada. Que todo o medo fosse o terror nas telas de um filme B, que todo o suspense se resolvesse em alguns fotogramas, que o susto fosse rápido. Que todo o medo tivesse o “the end” em duas horas no máximo. Que o medo fosse uma máscara do Jason, uma serra elétrica, pássaros, pássaros, muitos pássaros, um símbolo facilmente identificável. Que todo o medo se dissipasse no acender das luzes. Que todo o medo se dissipasse. Que o medo não passasse de superstição, ficção, invenção da humanidade. Mas o medo às vezes surge por debaixo da porta, invisível. O medo é uma realidade não palpável. O medo, o terror, o susto, não são nenhuma invenção. Isso tudo é a própria humanidade. Eu tenho o medo na carne. Muitos medos. E um terror que é quase vertigem. Eu tenho medo de andar distraída, dos meus tropeços. E por isso essa tensão nos ombros, todas as dores, no corpo e na alma. Por esse medo que me espreita atrás do espelho, todas as dores. Todas as minhas dores são medos encarnados, meu corpo encolhido atrás de um móvel, meus olhos arregalados. O mundo podia pegar mais leve com a gente, ser mais suave. Nós, que ainda somos eternas crianças. Que precisamos desesperadamente de todas as brincadeiras, de todos os jogos e sorvetes, e das formas coloridas. E de alguns colos quentes quando alguma coisa dá errado. O mundo podia pegar mais leve, ser mais suave, dissipar os medos. Ser uma canção de ninar ao pé do ouvido. E amanhecer com aquele solzinho que aquece e acalma, aos poucos, preparando um novo dia nas nossas almas.

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