17.10.11

Ninguém me ensinou a desaprender. Tive que ir por conta própria, me esvaziando. Um bom método para se esvaziar é encher-se de contradições. Os ensinamentos duros começam a amolecer. Vão soltando do fundo. Você esfrega um pouco, vai trocando a água, e quando vê até a gordura mais grudada já não está mais lá, dentro de você. Mas não há fórmulas. Não há receitas. A gente aprende rápido a falar. É imitação. Mas custa muito aprender a desdizer. É um desaprender. Ninguém ensina. Porque a gente aprende das mesmas formas as mesmas disciplinas. Mas o desaprendimento é uma criação. Dois seres que desaprendem sempre vão desaprender de formas diferentes. É preciso inventar. Desinventar. Inventar e desinventar de novo, porque já não é a mesma coisa que se inventa e desinventa. Aprender requer repetição. Mas desaprender são sempre movimentos bruscos, novos movimentos, quedas, desequilíbrios, sustos, muitos sustos e saltos, surpresas, inesperados. Nunca é igual. O primeiro desaprendimento é um maravilhamento, um inesperado livre que surge sem mais nem menos. Parece um acaso, mas não é. É criação. É o deus que a gente é, e projetou fora porque tinha medo dessa onipotência, onipresença, onisciência que pulsa em nós no ato da criação. Porque tinham medo que nós descobríssemos e criássemos tudo diferente do que é agora. Não é confortável desaprender. Não é confortável pra ninguém. Mas é livre. Nada mais livre do que ser eu deus e desaprender e desinventar do meu jeito. Nada mais deus do que a palavra liberdade agindo no meu ato de criação. Tenho conversado com muitos mortos que desaprenderam antes de mim, e também com alguns vivos. Eles não me ensinam nada. Eles me confundem, me desorientam, me atropelam, me descabelam. Não me apontam nenhuma direção. Eles me puxam tapetes, me tiram chãos. Nosso papo tem sido muito produtivo, porque não produz nada, nada de útil ou consumível, nada de nada. Produzir é finito. O que não se produz é a infinitude. É vasto não saber, não ser...é vasto...  desaprender não tem limitação.

Nenhum comentário: