9.7.11

Como a poesia é pouco explosiva, estou me aperfeiçoando na arte de criar bombas. Amarro-as ao corpo. Diversos materiais me servem. Tudo me serve. Só a poesia não serve pra nada. Pretendo explodir as palavras. Com tudo o que vou catando e amarrando ao corpo. É assim: você vê uma coisa. Se ela te chama, é explosiva, você pega. Muitas coisas não me chamam e não servem pra nada. São as coisas decorativas. Como a poesia. Já rasguei dinheiro, mas nunca queimei livros. Acho que ainda estou apegada às palavras. Como eu disse, estou me aperfeiçoando na arte de criar bombas. Ainda não sei muito bem. Invento na hora. Se não funciona, descarto. Desamarro do corpo. Deixo escorrer. Às vezes quando eu menos percebo a coisa explode sem querer. É assim mesmo. Estou em fase de testes. Acidentes acontecem. Já me explodi em várias partes do corpo. Eu me recomponho. Sou feita de alguma matéria esquisita tipo rabo de lagartixa. Foi depois que eu abandonei os sonetos pelos cianuretos. Percebi que eu só morria em versos. Eu morro muito em versos. Minha química é mais complexa. Chama-se vida. Essa coisa é mais explosiva. E eu tenho uma malandragem felina pra sair ilesa, e o resto pensar que são 7 vidas – é bem mais que isso! É rabo de lagartixa. Me divirto explodindo e refazendo. Ninguém acredita. Mas alguns estilhaços vão longe. E o boom da bomba pode ser ouvido. Quer ver só? Leia em voz alta: booomm... ouviu? Pra perceber tem que colaborar de alguma forma, senão a bomba não explode em você, e você não pode ter a maravilhosa sensação de rabo de lagartixa. Vou dar cursos e palestras gratuitos sobre o tema, porque eu sou boa. Será minha obra social. As pessoas precisam sentir a sensação de vida. Elas morrem muito, até fora dos versos. Fico pasma como as pessoas têm a capacidade de estar mortas, e até conversar com você. Exércitos de mortos me dão “bom dia” todos os dias. É preciso explodir, pra se refazer. Estou adiantando a matéria do nosso workshop. E eu nem pedi currículo e carta de intenção. Não quero ler. Traga-me materiais para bomba. Quaisquer. Já disse como se descobre um. Às vezes não é. Arrisque. Olhe em volta e pegue o que te chama. O resto é decorativo. Não perca muito tempo pensando. “Viver é respirar, pensar já é morrer”. E não interessa quem escreveu isso. É assim mesmo. Vamos começar com exercícios respiratórios, depois comer, e cagar – é preciso sentir-se corpo. Estou adiantando a matéria. Não é fácil chegar nessa síntese. Vamos com calma. Um cigarro e uma taça de vinho, porque está frio. Sente o frio? É corpo. O frio não existe, o que existe é a sensação do frio no seu corpo. Está mais claro? O vinho e o cigarro são materiais para bomba. Ou não. Mas para mim neste momento são. Depende do contexto, entende? Eu poderia dar aulas para crianças, sou tão didática! E crianças sabem fazer bombas com muito mais perspicácia. Ainda não foram tão bem treinadas na pacificidade. E o word me diz que essa palavra não existe, mas quer dizer o ato de ser pacífico, que é também um modo de ser passivo. O contrário de rabo de lagartixa. Bom, já me estendi demais e o tempo parece que está se esgotando. Gostaria de agradecer a presença de todos. Creio que nesta palestra pude apontar alguns conceitos-chave de nossa filosofia. Espero reencontrar alguns de vocês em nosso workshop, munidos do material didático, e principalmente disposição explosiva, que é o que conta. E – aqui vale citar o autor – como diria o Pernalonga: “That’s all Folks!”

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