3.4.08

Não arranhão: soco seco no fundo da gente.
Não dor, não mágoa: uma tristeza molhada,
borrada de tanta possibilidade desfocada,
não concretizada,
de tanto porvir que não veio, que não vem
e será quando que virá meu deus?!


Um aperto forte sufocante,
abraço de polvo que envolve, esmaga
e faz da gente polpa, massa disforme,
bloco mole de tristeza que despenca pesado no chão.


Tanta coisa bonita dentro e quem pra querer entrar?
Tanto canto entalado escapando desafinado da garganta
já desaprendida desse cantar,
a gente querendo se dar e quem pra ler essa carta, pra
abrir esse presente?


Quero também receber, ando cansada de ser só
rementente.

Maria Rezende, do livro SUBSTANTIVO FEMININO

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