10.6.13

IMERSÃO NA FAZENDA

ou relatório em 2 dias
para minha orientadora de Mestrado

na fazenda da Malu
tem vaca e tem cachorro
tem formiga e carrapato
queijo curando, pimenta ardida
e farofa amarela
tem o mel das abelhas
que ela encanta
pra adoçar a tarde
tem trem de carga
do lado de lá da estrada
e pra lá de pra lá
diz que tem um rio

aqui
a gente tenta
fazer mexer
a cabeça
pra encaixar
no braço e no pé
parece que vai dar pé...
embora isso pareça assim
meio sem pé nem cabeça

tudo se encaixa
e vira luz
projetada nas finas paredes
do tempo
- transparências na caixa da noite

toca o sino da comida
e todas as letras brincam
na língua da Luiza
fazendo cócegas
na barriga

queijo torrado
e vinho gelado
fazem a cama
pra deitar um bom papo

o trem mais uma vez desliza
sobre os trilhos dos meus ouvidos
com todos os seus vagões e apitos

a vaca mais uma vez apita
os galos ainda apitam
os grilos
e até os passarinhos
apitam

só no silêncio
há sons infinitos

à noite
a fazenda da Malu faz medo
quando todos dormem
e os retratos saltam dos quadros
e dançam rangendo os assoalhos da casa
na minha mente mal-assombrada

o trem da madrugada
também deve carregar seus fantasmas
estremecendo as paredes das casas
por onde passa

insetos esquisitos
fugidos do escuro
rondam minha lâmpada acesa
- insetos também têm medo,
concluo e durmo.

na fazenda da Malu
chamada Berros da Maritaca
tem bom dia e café forte
pra espantar o que sobrou da noite

na varanda
da fazenda da Malu
tem uma cadeira de balanço
onde eu fumo
e finjo ter sono
e um poema se balança
nos meus sonhos

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