18.5.12

Fake


Eu sou fake, muito fake. Meus poemas apaixonados são uma piada. Exageradamente derramados, melecando tudo de uma gosma cor-de-rosa. Não, eu não amo, ninguém ama tanto assim. É só um jeito de viver numa montanha-russa. Um parque de diversões dentro do peito. Fazer de tudo muito susto ou muito riso; nada pela metade, morno, médio, meio... tudo eu intensifico. Eu brinco de roleta russa com as emoções. Às vezes o tiro me pega em cheio, mas quando não - já sentiu o gosto de estar vivo depois de apertar o gatilho? Eu invento esses jogos todos. Flerto com o perigo. Trapaceio no pôquer com a morte. Não suporto viver de tarjas pretas e sonos tranquilos. Há pessoas que se mutilam para ter sensações. Há todo tipo de maluco por aí. Uns atrás de morfina; outros de um passaporte para o inferno mais próximo. Os zumbis à solta e a gente tramando jeitos de se sentir vivo. Ou então se acomoda a injetar anestésicos diariamente. Tem sempre alguém pronto pra fazer isso por nós, como o carrasco que abria o alçapão do enforcado. Só que com bem menos espetáculo. A gente nem vê e quando percebe já morreu. Eu me jogo logo no fogo ou no céu. Os medíocres se contentam em jogar-se no sofá e contar estrelas na TV. Eu construo foguetes e brinco com explosivos. Invento histórias mirabolantes e paixões desmedidas. Eu faço tudo isso e é tudo fake. De tanto colar máscaras no meu rosto é impossível arrancá-las sem rasgar a carne. Acaba que muita mentira vira verdade. Tanto faz. O que vale é se sentir vivo. Uma dose de qualquer coisa forte, sem gelo. É sempre a última dose. Eu sempre puxo o gatilho.

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