8.9.10

UMA ARMA APONTADA PRA MIM

uma arma apontada na minha direção
e os meus pés no acelerador
um cano virado pra mim
meus pés no acelerador
eu grito com a buzina do carro
nenhuma expressão de pavor
eu grito com a buzina e os pés no acelerador
eu grito muito passando pelos sinais vermelhos nesta madrugada
meu carro é uma arma!
eu sou uma bomba regulada pra explodir de tempos em tempos
atiro pela janela os seus óculos de grau
acendo um cigarro no posto de gasolina
eu sou uma bomba relógio – veja o tic-tac nos meus olhos!
eu poderia empunhar aquela arma numa fuga desesperada e me jogar na frente de um carro, como joguei meu carro contra aquela arma – certos medos eu encaro
sou fugitiva de um estacionamento de shopping center
sou fora da lei – dirijo embriagada e fumo em lugares fechados
faço coisas erradas – mas quem diz o que é certo?
aqueles seguranças que me expulsaram da festa por mergulhar seminua na piscina?, eles não sabem de nada!
minha loucura é o que me mantém viva
pessoas sensatas param o carro quando encaram uma arma
as loucas metem o pé no acelerador e a mão na buzina
o que é certo?
sei que estou viva, com os olhos soltando faísca
mais viva, talvez, no sentido de mais ligada
e continuo louca, dirigindo só pela madrugada
certos prazeres ninguém me tira, nenhum medo
não tenho medo da morte, nem da loucura
me apavora a caretice
e as pessoas que deixam de viver
quando ainda estão vivas
me apavora, não a morte, mas toda essa falta de vida

essa falta de vida...

ps. a título de informação, fui surpreendida na subida da ponte por um maluco que se jogou na frente do meu carro em movimento apontando uma arma, na madrugada de domingo pra segunda, e o que eu fiz já está dito: pé no acelerador e mão na buzina. sim, eu tive medo. mas nem pisquei. foram alguns segundos e eu não tive tempo de pensar mas sabia o que estava fazendo. ele seria atropelado se não tivesse desviado do carro.

3 comentários:

tavinho paes disse...

que susto, hem, maninha! fica fria ... isso não acontece sempre ... nem se repete fácil ... a única coisa boa é que rendeu um poema que, falado no tom certo, com a música quase incidental no fundo, é show!!!

Beatriz Provasi disse...

tranqüilo, foi só o susto. e me rendeu uma auto-análise - eu sou do tipo que mete o pé no acelerador. e mais ainda: eu sou capaz de matar um ser humano sem nem titubear. eu fui com tudo pra cima dele! me assustei mais comigo do que com a possibilidade de um tiro. e aí rendeu esse poema... preciso decorar uns novos, vou botá-lo na lista. valeu, tavinho! beijos

Anônimo disse...

Tb me apontaram uma arma hoje, estava em meu carro e a pessoa em outro carro que me seguiu porque mostrei o dedo pro fdp... acelerei e tive sorte que ameacei entrar em um acesso de rodovia e sai... o cara com a arma acabou entrando que não teve tempo de pensar ai ja era tarde.. sorte e Deus.