28.9.10

Do lugar onde estou

para Mário Bortolotto

Tenho andado com o seu livro na minha bolsa. Um bom lugar pra morrer, qualquer lugar onde eu esteja. Hoje li um poema seu numa mesa de bar e um amigo me falou: “é você”. Por um segundo fiquei feliz. Porque eu te admire como poeta, talvez. Mas depois eu pensei: “que merda!”. Porque eu me identifico nessas coisas que você escreve e que nos dilaceram. Você tem o dom de tornar a tristeza bonita e isso é quase um crime. Eu quero ser feliz, mas eu sou esses pombos que se suicidam no seu sótão e esse cara que incendeia o bar e volta pra casa sozinho. E eu leio o jeito que você escreve e quase acho bonito ser assim. Na verdade não é bonito nem feio, simplesmente é, mas eu me dilacero. E você me conforta. Outro dia um amigo nosso escreveu no meu blogue que sai de lá “um pouco mais consolado”. E eu pensei: “eu queria era sair consolada da minha vida”. Mas eu entendo o que ele diz. Perceber no outro a mesma dor que nos dói nos consola, nos faz sentir menos sozinhos. E não é que a gente deseje essa dor pra ninguém, não! Mas se sentir menos sozinho já é menos solidão, por mais que ela seja irremediável. É menos solidão. Então eu ando com o seu livro na minha bolsa. E passo uma noite incrível com uns amigos tocando violão e tocando gaita enquanto eu leio os seus poemas. E eles pegam o seu livro das minhas mãos e lêem os seus poemas. E eles me dizem “é você” ou me perguntam quem é você, e também desejam ter esse livro. No fundo somos todos um pouco assim. E todos se identificam. Porque “ela não vai aparecer, eu a amo, então chamo um taxi e volto pra casa”. E esses malditos sapatos de névoa pisoteando os nossos corações... E essas pessoas nos dizendo que temos problemas com a bebida... E essas coisas que encontramos no vão do sofá... E esse silêncio, e esse silêncio... “olhando cúmplices para a piscina vazia”.

Te vejo do lugar onde estou.
Te beijo,
Bia

* sobre o livro "Um bom lugar pra morrer"

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