27.10.08

Começou, e agora?

ADVERTÊNCIA: Este texto não é uma crítica, é só uma necessidade de expressão.

Não costumo ler críticas nem me deixo influenciar por elas. Prefiro tirar minhas próprias conclusões. Pois bem, nem faço idéia do que a crítica falou sobre “Ele precisa começar”. Fui assistir à peça porque a proposta me pareceu interessante – e de fato é. O ator com pleno domínio de todas as funções criativas do espetáculo, texto, direção, atuação, luz, som; e partindo do seu próprio processo de criação. Não tem nenhuma grande novidade aí (e onde é que tem?), mas isso me interessa. Mas se por um lado a concepção do espetáculo me despertou interesse, por outro achei o conteúdo um tanto raso. É o próprio ator, Felipe Rocha, num quarto de hotel, escrevendo o texto da sua peça. Isso poderia levar a muitos lugares ou a lugar nenhum. Nesse caso, levou a muitos lugares e a lugar nenhum. É uma necessidade desesperada de expressão - muito compreensível, aliás, na nossa geração - e algumas boas tiradas cômicas. Mas esse “querer falar” é ao mesmo tempo um “não ter nada a dizer”, e é aí que a coisa toda se perde. Porque querer falar sem ter o que dizer acaba soando como uma simples necessidade de aparecer – também muito compreensível na nossa geração “Big Brother”, mas pouco louvável. Esse processo de construção do texto que o ator/autor põe em cena é interessante, mas é diferente querer dizer alguma coisa e não saber como, buscar meios de se expressar, descobrir outras coisas pelo caminho, se desviar, voltar... e querer dizer qualquer coisa só pra ter o que falar! Eu fiquei angustiada com essa tentativa desesperada do ator de falar sem ter o que dizer, crendo na possibilidade de ser surpreendida com uma crítica. Com um comentário final que denunciasse o absurdo daquela situação. Como em “Dinheiro grátis”, de Michel Melamed, em que o ator submete o público a uma série de jogos de compra e venda, em que o público paga por uma declaração de amor, por um trago no cigarro do ator, por uma série de coisas que o ator propõe em cena, e no final queima o dinheiro todo, dando um sentido de crítica àquela brincadeira, a todas aquelas transações comerciais realizadas no espetáculo. A peça não diria tanto sem aquele comentário final. Em “Ele precisa começar”, a peça fala, fala, e não diz nada. Felipe Rocha chega a propor que nós, espectadores, estaríamos nos perguntando qual o interesse daquilo tudo. Acerta. As pessoas riem da piada. Essa autocrítica em tom de piada me lembra tanto Jô Soares quando faz uma piada sem graça... Aí ele dá um jeito de arrancar risada fazendo piada do seu próprio ridículo. Talvez ainda fosse pior, aquela autocrítica de quem quer receber elogio. Não sei. O fato é que não me parece nenhum dilema existencial real, nenhum questionamento sério sobre o sentido daquilo tudo. Apenas um comentário engraçado perdido no meio de tantos outros, amarrados por esse desejo de se expressar sem ter o que dizer. Eu sempre acho que, nesses casos, é melhor ficar calado. Mas admiro a coragem do ator, ele encarou a fera que o perseguia em seus sonhos. Ele precisava começar e começou. Só não sabia pra onde ir, andou em círculos e não chegou a lugar nenhum. Não conheço bem a trajetória do ator, e não tenho nenhuma pretensão de julgá-lo por esse trabalho; aliás, gostei dele como ator, não gostei foi do autor do texto (que por acaso é ele mesmo). Torço pra que no próximo trabalho ele ao menos tenha idéia de onde quer chegar, mesmo que dê em um lugar totalmente diferente. Tenho certeza que seus passos serão mais seguros, e acompanhá-los uma experiência bem mais interessante.

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