6.5.11

não cabe no poema

são farelos no fundo do pacote de biscoito
o gesso sem assinaturas depois da fratura
a rachadura naquela velha xícara
acumulando o café de outros dias
e o buraco de cigarro no estofado do sofá
- aquele descuido -
a camisa preferida sem botão
há anos esperando o conserto no fundo do armário
esquecida lá, desejosa de um corpo,
e tão sem botão, tão sem poesia
todas as coisas quebradas que guardamos
os e-mails que ficam pra ler depois
soterrados na sua desimportância
pelos sempre mais novos
toda essa urgência das coisas novas,
mais e mais novas
e todos os velhos vícios, arranhões em discos
essa mania de esfregar a tristeza
na cara dos travesseiros
e toda a melancolia desses copos quebrados
feitos sob medida para pés descalços
essas músicas que tocam na rádio
sempre no momento errado
as lâmpadas queimadas que não trocamos
e a mesma mão sempre no interruptor em vão
- esses esquecimentos –
e as baratas que surgem na madrugada
pelas janelas abertas
pra assombrar nossa falta de vôo
coisas secas e vivas
cercas de arame farpado
o rasgo na roupa e o arranhão na barriga
lágrimas e esparadrapo
e toda essa solidão
perdida na sua risada engraçada
escondida embaixo das nossas cobertas
nas dobras de lençóis revirados
por um momento intimidada pela sua companhia
e toda essa solidão que você me deu
e que sempre foi minha

3 comentários:

Seiji Kimura disse...

Demorô...

Beatriz Provasi disse...

rs... voltei! e q bom q vc ainda tá por aqui, achei q já tinha perdido todos os leitores do blogue. bjss

tavinho paes disse...

LENDO OS NOVOS ... ATUALIZANDO-ME ... VENDO COMO ANDAS ... ESTE POEMA E TODOS OS OUTROS NOVOS (acima e abaixo deste) SÃO MUITO BONS ... UM ESTILO!