23.4.10

a noite me convida, me chama, me empurra pra fora da casca
a noite é uma criança malvada que manipula os pais com cara de anjo
consegue de mim o que quer, me suga, me puxa
me joga na pista, me embebeda, me pira
às vezes me dá o que eu quero
na maioria das vezes, me tira
doce de criança puxado da boca
lá se vai meu conforto, minha calma,
a quietude e a lucidez
tudo o que tem sabor doce desce pelo ralo
resta um amargo, um ácido, um salgado apimentado
gosto de álcool e de cigarro, de saliva e de suor
todas as bocas têm o mesmo gosto
eu queria aquela que me acordaria hortelã pela manhã,
se despediria café, me receberia paixão,
e enfim de noite me morderia pavor
todo dia, sempre igual
mas parece que a minha boca não foi feita pra café e hortelã
apenas pavor, à noite
e lágrimas, pela manhã

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