4.6.09

Carta de um livro em processo (para Fernando)

Oscar subiu no telhado. Quer dizer, no terraço de um prédio bem alto. Os gatos são muito espertos. Eu mesma não saberia chegar lá se não tivesse seguido seus rastros. E lá estava você, entre os pára-raios e as antenas de TV. Eu, você e Oscar, juntos de novo. Naquela imensidão de topos de prédios que nos cercavam. Um mar de concreto em que a onda era o vento. E a gente mergulhava... Era o melhor mar para Oscar, que não gosta de água. Nos deitamos sob a luz da lua e não sei ao certo quanto tempo se passou. Foi como num transe. Quando despertei, estava nos seus braços. Você me ajudava a descer do telhado. Já estava no andar de baixo e dizia: “Pule, pode pular nos meus braços”. E eu deslizei no concreto como se estivesse em um escorrega... deslizei para os teus braços. Se você estivesse lá embaixo, na rua, e eu no último andar do prédio mais alto, e você me dissesse “pule”, eu pulava. Confio em você. Do teu lado posso andar de olhos fechados. É uma confiança tão certa, uma confiança tão rara. Amar e saber-se amado. Cuidar e ser cuidado. Por um simples querer. Sem obrigações, sem cobranças. Por um simples querer bem. Não posso livrar você de todo o perigo do mundo. E nem sempre você estará lá embaixo na rua para amparar a minha queda de um prédio bem alto. Mas se você disser pule, eu pulo; e quando eu digo pode vir, você já está do meu lado. Assim somos nós, com nossa confiança mútua, rara, perpétua. Nosso amor desmedido que nos serve de abrigo quando estamos perdidos. Depois de tanto tempo viajando pelo mundo, percebi que eu não tenho um lar. Voltar para casa é estar nos teus braços. Nunca existiu uma casa na árvore. Você é a minha casa da árvore. O meu refúgio. O meu cantinho seguro no mundo. Tudo isso eu já sabia, claro, já sentia. Mas naqueles segundos em que estive nos teus braços ao descer do terraço, isso se tornou tão certo e tão claro. Visível e palpável como as antenas de TV e os pára-raios. E me veio uma paz de estar em casa, um repouso para todo o meu cansaço. Foram apenas alguns segundos. Mas foi minha vida toda, ali, concentrada, acolhida no calor dos teus braços como coisa preciosa e mui querida. Por isso eu sei, com toda a certeza do mundo, que eu vou te amar por toda a minha vida... E você sempre pode vir ao encontro dos meus braços quando precisar de um lar. Sinto saudades quando você não vem. Mas afinal, você sempre está. É como se nunca tivesse saído e por isso não precisasse voltar. Mas você sempre volta... Eu sempre volto... Pra mim... Pra você... Pra casa.

2 comentários:

sheyla de castilho disse...

oi bia... vim conferir a intuição de gean que diz que nossa poesia conversa... amei seu blog, estou te seguindo...
beijo!
(sheyladecastilhoº

Rodrigo Abreu disse...

Ai, eu estive neste telhado com vc, eu era o oscar..... rsrsrs
Amo demais seus sentimentos com formas de palavras...
DiGo Abreu