21.11.08

O MENINO E A CORUJA FALANTE

para João Luiz de Souza

uma fala amaciada
desliza pela madrugada...
e eu vejo um menino brincando
um sorriso de criança encantada
sabe aquela criança que inventa a brincadeira
personagens, histórias, mundos incríveis,
paisagens, perigos, heróis, grandes conquistas
coisas que os outros dizem: não é verdade, isso não existe.
mas ela insiste na fantasia
pois no fundo ela sabe
(e se fortalece nesse saber profundo)
que tudo existe quando a gente cria!
eu acredito na sua história,
entro no jogo, participo da brincadeira,
e comigo vejo outros,
e vejo uma cidade inteira!
e eu vejo o olhar deslumbrado da criança
quando percebe que os outros acreditam no que ela já sabia
mas lhe diziam os incrédulos: isso é pura fantasia!
qual o quê!
criança sempre vê além
por isso vê o que ninguém vê
esse menino viu além
e foi além do que podia imaginar
outros vieram lhe somar histórias
e era tanta imaginação, tanta imagem, tanta ação,
tantos mundos se somando, tanta criação, tão divertido!
que o menino nunca mais se viu perdido
e mesmo na madrugada mais sozinha, mais fria, mais vazia,
ele conversa com uma coruja de estimação
um coruja que fala!
não como um papagaio besta que vive repetindo frase feita
ele tem uma coruja que no pé do seu ouvido
pousa palavras com asas
uma coruja que fala poesia!...
o menino nunca pára de brincar
a brincadeira, tão somada, tão sadia,
que pela cidade inteira se irradia,
nunca, nunca, nunca vai terminar!
mas tem hora que o menino precisa
- porque toda a mãe dizia e nela a gente sempre acredita -
deixar o jogo só um pouquinho,
escovar os dentes, fazer xixi, e ir pra cama dormir.
e nessas horas a coruja se empoleira na sua cabeceira,
e faz dos versos uma linda canção de ninar.
no dia seguinte o menino acorda homem feito
com tantos feitos no caminho
mas ainda vejo no seu olhar, no seu sorriso, de mansinho,
o despertar daquele menino,
que inventou as brincadeiras
com as quais continua a brincar.
ele acredita, e se encanta, e se deslumbra,
e ainda conversa poesia com a coruja,
que leva no ombro pra todo lugar!
mas sabe, não é todo mundo que vê
a coruja no seu ombro e o menino em seu olhar
são só as crianças e os poetas
- o que dá na mesma.
só mesmo que sabe brincar!

2 comentários:

Anônimo disse...

Extremas frases para a nossa orelha!!! Perfeita! Feita per quem sabe saber! Esse aí do Corujõao tb é bom.. beijos, valeu.

Beatriz Provasi disse...

valeu, dudu! escrever sobre/para/com os ratos é sempre um deleite... beijos!