25.12.10

Não preciso que me tirem pra dançar esta noite

Já foi, engoli o Natal com peru e farofa. Agora todos dormem e eu posso simplesmente ouvir um CD de blues e tomar esse rum que a minha irmã trouxe de Cuba quando esteve lá. Usei o rum pra fazer um mousse de chocolate, aí me lembrei dele. A garrafa ainda estava fechada. É claro que ela trouxe várias, esta é a última. Estava guardada. Nem lembrava dela... encontrei e posso considerá-la meu presente de Natal. Aqui não teve troca de presentes. Não gosto disso, acho um saco ter que comprar presente pra alguém numa data determinada. Eu compro quando eu tô a fim, não importa se é aniversário, Natal ou qualquer coisa que o valha. E nessa época eu realmente não fico a fim de comprar nada. Minha mãe também. A gente é muito diferente, mas em algumas coisas a gente se entende. Comemos na hora que deu fome, vimos um pouco de TV e aí ela foi dormir. Não deixei ela ver o Natal da Xuxa, ficamos com o Pânico na TV. Tem muita coisa no Pânico que eu gosto, de verdade. Acho um programa escroto, politicamente incorreto, e muito bem editado. Na verdade o conteúdo é uma bosta. Eu me delicio é com as edições. Os caras parecem idiotas, mas sacam muito bem quem é Eisenstein e toda aquela toeria de montagem revolucionária dos filmes soviéticos. Só que usam isso pra fazer graça e escrotizar tudo, e não pra nenhuma revolução. Ok, cada uma faz a revolução que pode. A minha, no momento, é tomar esse rum cubano ouvindo um blues americano numa noite em que dizem que nasceu um cara chamado Jesus, que parece até que era um cara bem bacana, mas eu não conheci, não posso afirmar. Se é fato que ele transformava água em vinho acho até que eu ia gostar. O cara também queria mudar o mundo, como os russos e os cubanos. Foi crucificado. Hoje estampa camisetas, do mesmo modo que Che Guevara. E um monte de gente fala em seu nome, na maioria das vezes um monte de besteiras. Acho que ele não ia gostar muito disso. Mas como eu disse, não o conheci, não posso afirmar. Mas desconfio mesmo que ninguém goste de ver alguém falando em seu nome. Eu prefiro falar por mim mesma. Mesmo que eu me contradiga 10 vezes na mesma frase. Enquanto eu estiver viva eu tô mudando de idéia, então que ninguém pegue nada que eu diga como coisa fixa. Dali a um segundo pode não ser mais aquilo. E não é. Disse que não ia fazer, mas desejei feliz natal pra quem eu não devia. É claro que eu fiz isso por mensagem, que é mais seguro. Não tem a voz do outro do outro lado da linha pra te estremecer e fazer você mudar de idéia e não ligar mas você já ligou e não tem mais jeito. É claro que eu não recebi aquele feliz natal de volta, eu não esperava por isso. Mas levantei uma bandeira branca em sinal de paz e estou bem assim. Tudo o que eu queria é que ele entrasse por aquela porta e me tirasse pra dançar essa música que tá tocando agora. Etta James cantando A Sunday Kind Of Love. E a gente dançando como se não existissem domingos, segundas, terças... como se nada mais houvesse além de nós. Mas há uma penca de filhos e ex-mulheres na barra da sua calça, e nenhum lugar pra mim na sua dança ou nos seus dias da semana. Mas estou feliz com o meu sinal de paz. É um sinal de paz pra mim. Eu preciso dessa paz. A Sunday Kind Of Love e eu dançando sozinha esta noite. Don't Cry Baby, e eu não tenho vontade de chorar. Estou tomada por uma estranha serenidade. Eu que sou feita de desesperos. Não tenho lágrimas. Estou quase feliz. Esses dias encontrei um velho amor, um grande amor, eterno, que me faz muito bem. Dormi nos seus braços. Me fez muito bem. Ele já foi meu desespero. Não há mais desespero entre nós; ainda há amor, e isso me faz muito bem. Pronto, agora tá tocando uma música que eu adoro - Baby, What You Want Me To Do - e me deu realmente vontade de dançar sozinha esta noite. E é isso o que eu vou fazer.

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