8.6.09

não queira me anestesiar
não fujo da dor
encaro.
se pra amar é preciso doer, que doa!
e doa mais, muito mais, sempre mais...
(sofreria é se não doesse de amor)
doer é uma forma de sentir-se vivo
ter um corpo com terminações nervosas
e um músculo se exercitando no meio do peito
é natural da vida
se você entra numa academia e exercita demais o músculo do braço
no dia seguinte, o braço vai doer
com o coração é assim
é um músculo como qualquer outro
mas é um tipo de dor - exercitar-se - um tipo de dor que dá prazer
você sente que tem um corpo e faz dele o que quer
você sente que tem um coração e que ele bate e que ele apanha
não queira apaziguar meu coração
ele é um lutador de boxe, um campeão!
não uma bailarina na ponta dos pés...
vale sangrar no canto da boca e inchar o olho pra levar o cinturão
de que me vale dinheiro?
eu quero o título, as homenagens...
quero todas as honras...
e o inchaço no rosto e o dente que voa pelos ares
eu quero também
eu quero todas as minhas cicatrizes das minhas lutas e das minhas conquistas
e de todas as vezes que eu fiquei na lona
eu as trago comigo, as ostento como um troféu
você acha que eu sofro, que estou triste?
tenho tudo o que quero, mesmo quando não tenho
porque faço do meu jeito, sem medo de correr riscos
eu entro no ringue com a mesma disposição pra luta
seja o adversário um frangote ou um troglodita
de que me vale a sua segurança?
andar de cinto, atravessar na faixa, jamais avançar o sinal,
cercar-se de grades, câmeras, alarmes – prisão!
eu atravesso fora da faixa no sinal aberto correndo ao ar livre
só para abraçar alguém que vive!
morrer, cedo ou tarde, todo mundo morre
e também se morre, e muito mais cedo,
e muito mais triste o seu enterro,
quando se morre de não viver.
(meu coração não pára nunca!)

4.6.09

Carta de um livro em processo (para Fernando)

Oscar subiu no telhado. Quer dizer, no terraço de um prédio bem alto. Os gatos são muito espertos. Eu mesma não saberia chegar lá se não tivesse seguido seus rastros. E lá estava você, entre os pára-raios e as antenas de TV. Eu, você e Oscar, juntos de novo. Naquela imensidão de topos de prédios que nos cercavam. Um mar de concreto em que a onda era o vento. E a gente mergulhava... Era o melhor mar para Oscar, que não gosta de água. Nos deitamos sob a luz da lua e não sei ao certo quanto tempo se passou. Foi como num transe. Quando despertei, estava nos seus braços. Você me ajudava a descer do telhado. Já estava no andar de baixo e dizia: “Pule, pode pular nos meus braços”. E eu deslizei no concreto como se estivesse em um escorrega... deslizei para os teus braços. Se você estivesse lá embaixo, na rua, e eu no último andar do prédio mais alto, e você me dissesse “pule”, eu pulava. Confio em você. Do teu lado posso andar de olhos fechados. É uma confiança tão certa, uma confiança tão rara. Amar e saber-se amado. Cuidar e ser cuidado. Por um simples querer. Sem obrigações, sem cobranças. Por um simples querer bem. Não posso livrar você de todo o perigo do mundo. E nem sempre você estará lá embaixo na rua para amparar a minha queda de um prédio bem alto. Mas se você disser pule, eu pulo; e quando eu digo pode vir, você já está do meu lado. Assim somos nós, com nossa confiança mútua, rara, perpétua. Nosso amor desmedido que nos serve de abrigo quando estamos perdidos. Depois de tanto tempo viajando pelo mundo, percebi que eu não tenho um lar. Voltar para casa é estar nos teus braços. Nunca existiu uma casa na árvore. Você é a minha casa da árvore. O meu refúgio. O meu cantinho seguro no mundo. Tudo isso eu já sabia, claro, já sentia. Mas naqueles segundos em que estive nos teus braços ao descer do terraço, isso se tornou tão certo e tão claro. Visível e palpável como as antenas de TV e os pára-raios. E me veio uma paz de estar em casa, um repouso para todo o meu cansaço. Foram apenas alguns segundos. Mas foi minha vida toda, ali, concentrada, acolhida no calor dos teus braços como coisa preciosa e mui querida. Por isso eu sei, com toda a certeza do mundo, que eu vou te amar por toda a minha vida... E você sempre pode vir ao encontro dos meus braços quando precisar de um lar. Sinto saudades quando você não vem. Mas afinal, você sempre está. É como se nunca tivesse saído e por isso não precisasse voltar. Mas você sempre volta... Eu sempre volto... Pra mim... Pra você... Pra casa.

1.6.09

1 ano de Corujão em Niterói

Esta segunda, dia 1º, tem comemoração de 1 ano do Corujão da Poesia de Niterói, a partir das 20h30 no Bar G3, em Icaraí. Segue a matéria que saiu no Globo: