8.10.11

Quando eu digo “eu me chamo...”, não estou me designando um nome, estou realmente me chamando, porque eu já não estou aqui; é preciso que eu me chame para me dar a conhecer. E por mais que eu me chame, nunca é o suficiente. Há sempre algo que me falta. Eu me dou a conhecer então pela minha ausência, pelo meu chamado de uma presença que chego a tocar e que sempre me escapa. Eu me dou a conhecer não por um nome que me designa, mas por uma palavra que me chama sempre. Eu me chamo porque sou muitas em direções diferentes. É preciso reuni-las num chamado. Como um alarme que soa para inspeção: “Beatriz” – estão todas aqui? Ainda estão todas aqui? Eu me chamo porque há sempre alguma que falta. Alguma de mim que fugiu no meio da madrugada, quando ninguém olhava. Há sempre alguma escondida embaixo da cama com medo, e eu preciso descobrir para acalmá-la. Há sempre alguma que morreu e é preciso enterrá-la. Eu me chamo para me apresentar a mim mesma; não tanto uma presença, mas as minhas faltas.



Livremente inspirado em “Diante da palavra”, de Valère Novarina: "A palavra diz à coisa que ela está faltando e a chama - e, ao chamá-la, ela mantém reunidos num mesmo sopro seu ser e seu desaparecimento".

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