10.1.06

Disciplinas e indisciplinas

Não sou lá muito disciplinada para o estudo. Não sou lá muito disciplinada para nada... Agora, por exemplo, eu tinha que avançar minha leitura de "Vigiar e punir", do Foucault, pra fazer um trabalho pra faculdade. E cá estou. Linguagens não-verbais é o nome da disciplina. O livro é leitura obrigatória e o trabalho é tema livre: vou discorrer sobre mecanismos disciplinares aplicados na (de)formação educacional a partir da minha experiência de onze anos (1988-1998) no Instituto Abel (colégio de irmãos lassalistas de Niterói - infernal, diga-se de passagem!). A terceira parte do livro é sobre disciplina. E tem uma parte, logo no primeiro capítulo ("Os corpos dóceis"), que diz assim:

"O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto mais útil, e inversamente. Forma-se então uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma 'anatomia política', que é também igualmente uma 'mecânica do poder', está nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos 'dóceis'. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma 'aptidão', uma 'capacidade' que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita. Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada." (FOUCAULT, Michel. "Vigiar e punir: nascimento da prisão". 18ª ed. Petrópolis: Vozes, 1987, p.119)

Bom, isso, né?! Não fosse uma exigência da disciplina, a leitura certamente estaria sendo mais prazerosa!...

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