27.5.10

por fim,
encontrei tempo para a minha melancolia
estava cansada de fazer coisas
andava precisando sentir coisas
mesmo que sejam coisas como
páginas em branco
caixas vazias
casas abandonadas
lixões
estradas esburacadas
coisas corroídas e gastas
coisas inabitadas
acúmulo de inutilidades
isso tudo de que é feito
esse mosaico tosco
mal-ajambrado
que chamo de
minha vida

18.5.10

PERFORMANCE

Nesta quarta, a partir das 18h30, vai rolar o lançamento do livro PERFORMANCE.ENSAIO, da Tania Alice (professora da UNIRIO, poeta e performer), na Livraria da Travessa do Ouvidor. Vai rolar um open-space performático e eu e a Aline Vargas vamos fazer uma performance lá. Segue o flyer.

16.5.10

CARTA DE AMOR

Segue a carta que a minha irmã fez pra mim e leu ontem no lançamento do meu livro, me arrancando umas boas lágrimas! Aninha e minha mãe são meu maior orgulho, meu maior incentivo, e meu porto seguro, sempre.

Querida irmã,

Parabéns! Pelo dia e pela festa incansável. Por mais um livro de amor, sonhos, ilusões e desencantos, e também de resistência. Intenso como você. Lindo porque é teu e é coletivo. Esse coletivo que te envolve e compõe contigo coisas belas, com um companheirismo de causar inveja. Pode ficar tranquila porque você é linda e amada! Deixe correr as lágrimas e se quiser colo é só pedir. Mas sem sair do salto. Continue dançando e sendo nossa querida Bia. Uma esfinge que de tão simples, assusta os desavisados. Apenas uma criança pedindo colo, enxugue minhas lágrimas e dance comigo. Uma amiga que está sempre disposta a atender um pedido, a fazer um cafuné quando preciso e a proteger com garras seus fiéis amigos. Não. Você não está só. Nunca! Estou contigo e te amo. Todos os seus amigos te amam. E parabéns! Pela linda festa, pelo livro e pelo exemplo de vida, intensa, amiga, simplesmente BIA.

Beijos,
sua irmã Aninha.

14.5.10

Minha alma quer pular por essa janela...

Ontem fui dormir com uma pressão terrível na base da cabeça, atrás das orelhas. Essa semana inteira tenho tido uma série de pequenas enfermidades, somatizando meu estresse e minha ansiedade cada hora pra uma parte do corpo. Hoje é a garganta. Às vésperas do lançamento do meu livro, ainda me vejo mediadora de conflitos, com os quais eu não tenho nada a ver a não ser pelo fato de envolverem dois amigos muito queridos e um maluco que tem me irritado profundamente com a sua total falta de noção (ou maldade mesmo...). Me vi tendo que conversar com uma amiga das mais queridas e que eu amo infinitamente sobre um assunto que sabia a desagradaria e que a deixaria mal. Ela, que é uma pessoa linda que não faz mal a ninguém, ultimamente só tem tomado porrada da vida, e a última foi levada por mim, o que me deixou muito mal, mas muito mal mesmo. Sei que fiz o certo, que ela precisava saber, que eram histórias absurdas que estavam circulando pelas costas dela e eu precisava dar a ela armas pra se defender. Mas pra mim o momento não poderia ter sido pior. Fiquei ainda mais triste de saber que talvez ela não vá no meu lançamento, e eu entendo – não quero pedir sacrifícios a amigos que eu amo. Queria apenas que o lançamento do meu livro não representasse sacrifício a ninguém. Me dói um pouco saber que alguns amigos que não estão bem de saúde irão à festa. Claro que eu quero que eles estejam lá. Mas queria que estivessem bem. Além disso, há duas semanas, tive uma briga terrível com um dos amigos que eu mais amo na vida. Desde então quase não nos falamos. Ele disse que irá ao lançamento, mas isso não me importa tanto. Queria que ele conversasse comigo. Só isso. Ontem precisei muito que ele conversasse comigo. Precisei tanto, mas tanto! Ontem chorei e precisava de alguém que lambesse as minhas lágrimas rindo e rindo e me pusesse no colo e falasse, -“Sua besta, tá chorando por quê? Teu livro tá lindo, você vai arrasar, teus amigos te amam, e você não tem com o que se preocupar. Dorme que eu te faço um cafuné...” Tipo de coisa que ele poderia me dizer. Mas o orgulho impede a gente de se falar, e me machucou tanto a última patada que ele me deu, que eu nem tenho forças pra ligar. Aí a minha amiga de sempre, que é também a minha melhor analista, me deu uma acalmada, eu arrumei tudo o que precisava levar pra festa e fui dormir sem a bolsa de água quente que ela me recomendou - mas só a sua recomendação, o seu cuidado, já me aqueceram um bocado, e depois de algum tempo revirando na cama eu consegui dormir. Agora estou aqui no trabalho e não consigo me concentrar, minha cabeça ferve, minha garganta arde e minha alma que pular por essa janela e ir molhar os pés no mar... Eu devia estar feliz porque vou lançar um livro. Estou triste. Vou me divertir amanhã. Vou ficar bêbada e dar risada. Mas estou triste. Me sinto sozinha – e isso independe de ter ou não companhia. Me sinto profundamente sozinha, irremediavelmente triste, um tanto desamparada – como, aliás, na maioria dos poemas do meu livro. É..., até que faz sentido estar assim no lançamento. (e minha alma quer pular por essa janela e ir molhar os pés no mar... só isso.)

9.5.10


O ENIGMA DA ESFINGE
Tavinho Paes


... devora-me antes que eu te decifre, eis a charada que BEATRIZ PROVASI propõe com seus poemas misteriosos, escritos a base de emoções vividas em tempo real, qual uma pitonisa interpretando os sinais de um oráculo. Safa como Safo, baila leve como uma ninfa nos bailes que o amor lhe oferece, porque sabe que, neles, é a paixão quem toca a música e quem não a dançar, dança. Ela não recua diante de desafios nem ignora provocação. Nunca deu volta em amigo. Sabe dar o pulo do gato, lidando com suas sete vidas sem perder o rebolado. Não é careta nem dá mole pra otário. Ótima companheira de copo e de estrada, com ela a noite começa de dia e só acaba na madrugada. Sua energia é concentrada. Respeita a tristeza como quem sabe que há alegria até numa lágrima. Não tem nenhum problema quando lida com a libido nem se sente culpada diante do pecado. É, ao mesmo tempo, Maria e Madalena, dependendo de quem estiver rezando seu rosário. Não é de meter ninguém numa fria. Não é frígida nem tem medo de barra pesada. É linda quando se apaixona; sensível quando ama e sincera quando bem amada. É boa de festa e gosta de farra. Essa é a poeta menina que assina esse livro. Decifre essa ESFINGE e entre para o clube dos seus apaixonados, para os quais ela avisa: a paixão pode ser ótima, mas nada se compara ao amor que se realiza através dela...

2.5.10

GAROTA PÓS-CONTEMPORÂNEA

para Taianã Mello

garota pós-contemporânea
cosmopolita
toma uma vodka no meio-fio
mas jamais de havaianas
guarda um sapatinho de cristal
pra cada príncipe encantado
mas pode quebrar sem dó o sapato
na cabeça de algum sapo
ai daquele que despertar o dragão adormecido
no coração da princesa!
ela nasceu pra rainha de copas
mas traz uma alice maravilhada no seu sorriso
“cortem-lhes as cabeças!”
mas não sem antes lhes fazer um cafuné nos cabelos
a força enfurecida dessa garota
na cena, na vida
mais esse sorrisinho safado de menina
funcionam como um imã
ou coisa que hipnotiza
difícil não atender aos seus desejos
ou não achar lindos todos os seus caprichos
- oui, mademoiselle.
ela ri
ri muito, ri de tudo
sabe que esse mundo não passa
de uma piada mal contada
mas pega o fio da meada
e produz a própria graça
impossível não ser cúmplice das suas gargalhadas
ecoando pela madrugada
às vezes ela parece a mãe do mundo
cuidando de tudo e de todos
pois eu pego essa garotinha no colo
(e quem disse que ela é pesada?)
eu pego essa garotinha no colo, essa coisa pequena e delicada
e digo:
- pode chorar, está na sua hora de ser cuidada.
e ela pode chorar tudo o que precisa
porque eu não sou súdita, eu não sou mãe e não sou filha,
não sou um príncipe nem um sapo,
eu sou sua amiga.
achamos esse pequeno mapa do tesouro
no meio da loucura urbana
e é por isso que estamos sempre zanzando no meu carro
seguindo as indicações do mapa
eu, oscar, o leãozinho, a coisinha mística,
uma zabumba dentro do peito,
e essa garota pós-contemporânea.