29.12.09

TODOS OS RISCOS

quando se vive de amores inventados
o risco é acreditar demais
e se perder no meio do caminho
e se enrolar no fio do novelo
e se envolver na trama da novela
e se acabar no meio-fio
chorando sozinho
quando se viver de amores inventados
o risco é se arriscar demais
e caminhar no fio da navalha
e se atirar sem pára-quedas
e se lançar no pára-peito
e ameaçar um passo
e retornar assim, meio sem jeito
quando se vive de amores inventados
o risco é apostar demais
e fazer só lances altos

contando os centavos
e jogar todas as fichas

num cavalo dado, meio sem dentes
perder o último cigarro
e implorar um trago
quando se viver de amores inventados
o risco é embaralhar tudo
jogar cartas de amor e enviar tricas de áses
se lançar de isca e engolir o peixe
desinventar o fim e começar do meio
não saber que lugar é esse, que horas são, nem por que veio
se envergonhar da confusão
e sair de fininho
quando se vive de...
...é escrever poemas mal acabados
sobre coisas mal entendidas
e ter sempre o que acabar
e ter sempre o que desvendar
e nunca ficar entediado
inventar um amor
é desejar ardentemente
todos os riscos!

17.12.09

Conexões

17/12 - 22h40
Diretamente de Macau-RN. Cidadezinha inha inha. A Grande Família na televisão. Um whisky no copo. Tá bom. Tem brisa. Hoje à tarde, depois do almoço, fiquei deitada sob uma árvore na pracinha da cidade, um calor desgraçado, mas sob a sombra da árvore, um picolé de limão, e um ventinho tão bom...!

...

CONEXÃO
16/12

Minha viagem começou com Kerouac. Eu disse que viria sozinha? Mas nãããão! Vieram comigo Kerouac, Bukowski, Sartre e Simone de Beauvoir, Freud, Jakobson, Tavinho Paes e Mário Bortolotto. Só amigos. Vieram todos comigo, depois de uma dificílima seleção, porque também imploravam pra vir Chico Buarque, Anaïs Nin, e até mesmo Nietzsche - mas eu tive que dizer não, não terei tempo para dar atenção a todos vocês! Então viemos uma pequena excursão, eu e meus livros. E minha viagem começou com Kerouac, ainda no aeroporto. Ele veio sentado no meu colo durante toda a viagem de avião (adorando as minhas carícias para lhe virar as páginas). Agora fumo um cigarro no aeroporto de Salvador, enquanto aguardo o vôo pra Natal. Passagem a R$179 tem seu preço: conexão. Então tive que descer pra trocar de aeronave e foi um alívio saber que eu podia sair pra fumar. Se eu soubesse... É melhor que escala, em que você tem que ficar aguardando dentro do avião, se entupindo de bala Toffe! Enfim, coisas de viciado... Mas o fato é que Kerouac repousa agora ao meu lado e eu parei pra escrever não tanto pensando em fazer um relato, mas porque é impossível ler Kerouac sem pensar nele. Então eu fiquei pensando... nessa estranha conexão, de me aproximar enquanto eu vou me distanciando... Talvez ele esteja lendo Kerouac agora mesmo. Tavez o mesmo livro, a mesma linha. Talvez a gente se encontre numa palavra, e passeie pelas entrelinhas... Pelo menos sozinha eu posso criar as minhas companhias. Ele acabou de sair, estava aqui agorinha, falando comigo. Tomamos whisky no mesmo copo, por isso só um, só por isso.
São 18h20. Daqui a 30 min. eu embarco. Eu e a minha comitiva. Só terminar esse cigarro...

...17h50. Túnel do tempo, voltei. Eu que nem uma idiota perguntando onde era o portão de embarque. Aqui não tem horário de verão. Mais uma hora de espera. Mais um capítulo. Mais três cigarros.

...18h15. Conheci um holandês interessante. Puxou assunto comigo ao ver a capa do meu livro. Kerouac, falou, é bom de ler com um baseado. Pelo sotaque perguntei, americano? Não, aí me disse que era proibido de entrar nos Estados Unidos. Por quê? Eu já interessada. Por causa de umas coisas que eu escrevi, respondeu. Sem entrar em detalhes. Entre umas palavras e outras eu voltava pro livro, estava compenetrada. Ele ainda falou de Bukowski e da legalização das drogas, da péssima qualidade do nosso baseado e da sua maravilhosa plantação na Hollanda. Logo ele partiu pra pegar seu vôo, sei lá pra onde, e eu fiquei triste por não ter lhe dado mais atenção. Por que será que ele foi proibido de entrar nos Estados Unidos? Comunista ou terrorista? O que será que ele escreveu? Jornalista ou escritor? Será que ele tinha um baseado daqueles, verdinho, pra me dar de presente de Natal? Pra onde será que ele estava indo? Por que falava portugês tão bem? O que estava fazendo em Salvador? Mais que tudo, eu queria ler o que ele escrevia, tendo como referências Kerouac e Bukowski e proibido de entrar nos Estados Unidos! E eu nem perguntei o seu nome... (apenas isso, e o google me salvaria!)

...18h45. Fui obrigada a passar um copo de milk shake de ovomaltine pequeno do Bob's na esteira de detector de metais. Mais uma hora de atraso, e embarque para Natal, com Kerouac e as magníficas balas Toffe da TAM.

15.12.09

Brisa

Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.

Manuel Bandeira

(é pra esse lugarzinho que eu vou - Macau/RN - chato, né?!)

Na verdade eu vou levar meus livros. Mas pretendo viver de brisa... Durante um mês e meio, entre o Rio Grande do Norte e a Bahia. Quando tiver acesso à internet, quando tiver novidades ou histórias interessantes pra contar dessa viagem, publico aqui no blogue. Embarco amanhã. Fico na casa do meu pai. Não quero ter histórias interessantes pra contar. Quero ler meus livros. Andar pela praia. E descansar... Viver de brisa! Só isso.

eu sou a sua solidão, de Tavinho Paes

para Bia Provasi

eu sou a sua solidão
sou eu quem preenche o vazio
que você não pode preencher
sou eu quem te confirma a falta de alguém
que nem falta faz
quando você está com alguém
vivendo em paz

eu sou a sua solidão
o movimento que você não previu
o acidente do qual não se escapa
o que vê o que você não viu
o acontecimento que não passa

eu sou a sua solidão
sou eu quem te laça e desenlaça
sou eu quem te oferece lágrima e lenço
sou eu quem pede silêncio ao silêncio
sou eu quem grita uma agonia
que nem a alegria disfarça

eu sou a sua solidão
quando quiser se livrar de mim
não me esquece nem me ameaça
não sou seu caçador
nem você é minha caça
eu não sou uma desgraça
sou sensível ao seu acaso
me importo com a sua graça
eu sou o seu caso

eu sou a sua solidão
posso causar ou aliviar sua dor
não tenho nada a ver com amor
não tenho modo de usar
não tenho pressa
nem ando devagar
não sou nem triste nem carente
não sou casual nem frequente
na minha presença
quem está ausente
está exatamente
onde eu estou
quando, comigo mesmo
estou transparente

eu sou a sua solidão
não estou no seu coração
nem possuo a sua mente
até gosto da sua imaginação
mas a minha emoção
não é nem fria nem contente
não tem culpa nem se arrepende

eu sou a sua solidão
a diferença que te faz
diferente
sou a sua solidão
a sua que não te pertence
eu sou sua ... só sua

... eu sou a sua solidão

11.12.09

A NOITE DE ONTEM. E APESAR DE TUDO, ESSA SOLIDÃO.

Ontem rolou o CEP 20.000, mesmo debaixo de uma chuva torrencial (que por sinal, alagou meu carro, que hoje dorme com os vidros abertos pra ver se seca a porra do tapete e não fica com aquele cheiro de coisa guardada molhada). Tinha que rolar, e tinha que ser du caralho, porque era para o Mário! O Mário tá se recuperando bem à beça, pelo que dizem as notícias e os amigos. E os amigos que não param de lhe prestar homenagens, em São Paulo, no Rio, em Londrina. E que fazem campanha pra arrecadar uma grana pra ajudar ele, manter sua família lá. Não tive como não lembrar ontem, com o Chacal, da história do atropelamento dele há anos e anos atrás em São Paulo, em que ele ficou na UTI todo estropiado, e os amigos também fizeram uma festa pra arrecadar uma grana pra ajudá-lo. O que só me confirma essa coisa que eu tanto acredito e prego: quem tem amigo, tem tudo! E puta que o pariu, o que mais o Mário tem é amigo! É um cara muito querido. Que bom, né? Eu queria muito que ele tivesse visto ontem a pastelada que a gente fez com o texto dele no CEP. Foi divertidíssimo!! As meninas se jogaram no chão, a platéia fez o coro da torcida, Juju levou um tombo e saiu rolando... linda! Foi engraçadíssimo! O texto foi um trecho da peça "O método", esse que segue:

(Os dois egos começam a fazer uma série de exercícios físicos um de cada lado do palco. Júnior e Jony são seus treinadores e é como se o palco fosse um ringue de luta livre.)

JÚNIOR: Senhoras e senhores. Ladies and Gentlemen. Essa é a luta do século. Do lado de cá nós temos o apocalipse, a barbárie, a anarquia como única saída, a esperança repousando na destruição, no future. Do outro lado, o otimismo, a força jovem de quem toma Cebion todas as manhãs e ainda acredita na Rainha da Inglaterra e no Santo Papa. (para os dois) Ok, vocês já sabem as regras, nada de golpes baixos e para o bem da humanidade que vença o menos pior.

(Jony toca um sininho)

EGO 2: Eu vou despedaçá-lo, verme.
EGO 1: Eu carrego a esperança da humanidade nos ombros. Não irei decepcioná-la. Eu acredito na Carla Perez e na paternidade do Gugu.
EGO 2: Acho melhor então começar a se defender porque eu vou começar a atacar. Sid Vicious.

(Ego 1 sofre um impacto, mas se mantém de pé.)

EGO 1: Dj Marky.

(Ego 2 fica desnorteado, mas permanece firme.)

EGO 2: Combat Rock.

(Ego 1 cambaleia)

EGO 1: Madona. (Ego 2 quase cai) Rainha Elizabeth, Georg Bush, Daniel (Ego 2 cai). Jean Claude Van Damme, Spice Girls, Jota Quest, Adriane Galisteu, Otávio Mesquita, Edir Macedo, Alexandre Pires…
JUNIOR: É sensacional, senhoras e senhores. A barbárie está sendo impiedosamente derrotada pela força do otimismo, da esperança. O apocalipse acaba de beijar a lona, senhoras e senhores. Ele já não encontra forças para resistir aos golpes sucessivos da alegria de viver, mas não... esperem.... parece que o pessimismo ainda tenta uma desesperada reação...
EGO 2: Frank Zappa.

(Ego 1 cai como se tivesse levado uma rasteira.)

JONY: Sensacional, seus porcos, reação brilhantíssima. O otimismo sem razão cai de bunda no ringue. É o final do primeiro round. (Toca o sininho.)
JÚNIOR: (para Ego 1) Você bobeou. A luta tava praticamente ganha.
EGO 1: Foi bobeira minha. Mas ele não perde por esperar.
JONY: (para Ego 2) Teve um momento que eu pensei que tinha sido o fim.
EGO 2: Nesse segundo round eu acabo com ele.

(Jony toca o sininho anunciando o segundo round.)

JONY: Vai lá, ataca primeiro, não dá chance pra ele.
EGO 2: Lou Reed. (Ego 1 vai cedendo) Vítimas da Candelária, do Carandiru, Mick Jones, Etiópia, flagelados do Nordeste (encosta Ego 1 nas cordas) Sem terra, Sex Pistols, Cólera, Olho Seco, Sub, Detrito Federal...
EGO 1: (num esforço sobre-humano) Back Street Boys (Ego 2 cai longe). NSync, KLB, Twister, Shakira, Nelson Ned.

(Ego 2 leva a mão a pélvis e solta um grito)

JUNIOR: (toca o apito) Eu avisei que não valia golpe baixo. Vou ter que descontar ponto de você, Ego.
EGO 1: Sacanagem.
JÚNIOR: Continua a luta. (falando baixo para Ego 1) Aproveita que ele tá agonizando e dá o golpe de misericórdia.
EGO 1: Deixa comigo. (falando bem alto) É o Tchan no Hawaí.
EGO 2: Nããããoooo!!!!

(Ego 2 voa para fora do ringue como se atingido por um golpe violentíssimo.)

JÚNIOR: Sensacional, senhoras e senhores. A rebeldia sem causa foi atirada para fora do ringue. Um golpe violentíssimo. A barbárie agoniza. Parece que a luta terminou. A torcida da “galera feliz” está em delírio. Mas esperem... não, não é possível. Parece que o pessimismo ainda encontra forças para se levantar. O pessimismo vai voltar. A ameaça ainda paira sobre a humanidade. É inacreditável.
JONY: Ok, seus porcos, podem parar de guinchar, ainda não foi dessa vez. Os abutres da felicidade sem razão não vão se alimentar do inconformismo salutar. A contestação volta ao ringue. O inconformismo não se dá por vencido. Os seus olhos brilham como se tivesse um golpe mortal preparado.
EGO 2: Dogma 95, Sid and Nancy, Torquato Neto...

(Ego 1 cai desfalecido, mas ainda assim consegue balbuciar.)

EGO 1: (balbuciando) Paulo Ri... car... do...

(Ego 2 cai e os dois ficam no chão um de cara pro outro como se estivessem trocando tapas já no limite de suas forças.)

EGO 2: The Damned.
EGO 1: Domingão do Faustão.
EGO 2: Pj Harvey.
EGO 1: Banheira do Gugu.
EGO 2: Nick Cave e Tom Waits.
EGO 1: Caldeirão do Huck.
EGO 2: Latão de lixo.
EGO 1: Caviar.
EGO 2: Barata com molho de pimenta da Cica.
EGO 1: Abobrinha.
EGO 2: Melancia.
EGO 1: Hebe Camargo.

(Suas últimas palavras são praticamente inaudíveis, mas mesmo assim continuam falando até tombarem definitivamente desfalecidos.)


Deu pra sacar mais ou menos como deve ter sido, né? Uma leitura dramatizada totalmente improvisada, no palco do CEP 20.000, com Betina de EGO 1, Marcela de EGO 2, eu de JÚNIOR, Juju de JONY, e a Karlinha lendo as rubricas. Destaque pra Juju impagável fazendo o sininho, e Marcela rolando no chão com um vestido preto deslumbrante! Foi tudo filmado pela câmera do Tavinho - quero muito ver isso! O Mário faz teatro pra se divertir com os amigos, e foi o que a gente fez, acho que ele vai gostar disso.

Depois rolou o "poeta oculto", que é um amigo oculto de poemas, num barzinho em Botafogo, que foi caótico, como tudo o que a gente faz, mas muito muito bom!

Esrevi esse pra Betina:

a poesia impressa no corpo
a poesia expressa na fala
poesia nas veias
olhos, sorrisos
no coração
a força de mil cavalos
a fome de cem leões
o fogo de dez dragões
e o canto de uma sereia
na sua voz
e ela é só uma menina
bailarina, serpentina
brincando de ser feliz
é uma atriz que esbarrou na poeta e disse:
- desculpa, não vi que você estava aí...
e a poeta já estava nela
poética, com cores vibrantes
corpinturada na sua pele
luminosa nos olhinhos que pedem mais
a poeta rompeu o casulo
borboleta colorida
e saiu voando por aí...
levando a atriz, a bailarina, a menina
a voar mais alto, mais leve, sempre mais...
um dia ainda vejo ela na tevê, na tela do cinema
num close up que faz ver a alma
e vou dizer: que linda! ela é poesia...
ela ainda é a menina que brinca.


E ganhei esse do Pedro Lage:

Meu Poeta Mais que Oculto

Onde se perde, no labirinto dos lábios,
uma romã de olhos verdes e andar de colibri?
- Você acredita em cinema?
- Sim.
- Você acredita em poesia?
- Sim.
- Você quer ser uma princesa?
- Aí, depende.
- Você depende do caos?
- Também.
Ela se move na noite dos beijos mais...
e passa, deusa-menina, no lapidário dos ecos
para me dizer que escapou por um triz.
- Você acredita em teatro?
- Mas, é claro que sim!
Ela é o amor que não se deu porque voou
com seus olhos de aurora
e a vida ficou toda aa sua frente, cheia de ninhos
e bosques sensuais, até se perder nas moléculas
inchadas do futuro. Nunca é demais lembrar
mesmo no abismo dos versos
que por ela suspirou o poeta, que por ela
morreu o poeta – quem, mais que tudo, a quis
até queimar-se nas asas do outono.
Ai de mim!, como imaginar que eu poderia
na várzea da cidade insone, imprimir meu nome
e dar dizer colar o meu amor a Beatriz!

Mas mesmo entre os suspiros dos poetas, essa semana eu ouvi de um amigo sobre mim o que é certeiro e definitivo: "Você é a garota mais solitária do Rio de Janeiro". Eu já chorava de soluçar numa mesa de bar, e fiquei com aquilo ecoando: "Você é a garota mais solitária do Rio de Janeiro". Ele é um cara que enxerga além. "Você é a garota mais solitária do Rio de Janeiro". Suspirei, conformada. Eu sou mesmo.

10.12.09

É HOJE


ESPAÇO CULTURAL SÉRGIO PORTO
rua humaitá, 163 (fundos / 2266 0896)

10/12, quinta feira
de 20 às 22:30 / 4 reais.



HOMENAGEM A MÁRIO BORTOLOTTO



À SAÚDE E À RECUPERAÇÃO
DO GRANDE ARTISTA E IRMÃO


com leitura e textos de / para mário por

rogério skylab, chacal, fausto fawcett, carmen molinari, fabrício corsaletti, graça carpes, edu planchêz, mano mello, beto brown, pardal, ericson pires, fran fillon e quem chegar
*******************************************************
art-action com
tavinho paes, arnaldo brandão, betina kopp
beatriz provasi, juju hollanda, marcela giannini, layanna lossë
******************************************************
marco gringo carioca, daniel, zé urbano, gabriel, ricardo rodrigues, microfone aberto

apoio: prefeitura do rio
coord. chacal

8.12.09

PRA SER BEM CUIDADO

que haja enfermeiras bonitas
pra você olhar quando acorda

e que elas ponham cd's de blues

pra você ouvir enquanto dorme

que os anjos te apliquem remédios

e os médicos digam poemas

pra você voltar logo

a dizer poemas, a cantar um blues

com os amigos

para as moças bonitas

e os anjos caídos

7.12.09

Tava só aguardando a convocação oficial do Chacal pra postar aqui. Eis o que ele anunciou lá no seu chacalog:

POEMÁRIO BORTOLOTTO NO CEP 20.000 / DIA 10 DE DEZEMBRO

Preferia que isso fosse cena de uma peça.
Mas temos que conviver com esse horror.
O que fazer ? como o pessoal dos Parlapatões,
cantar bem alto a poesia, de mário e em sua homenagem
para que a nuvem negra se dissipe,
mário volte a conversar com a gente e
que a vida possa ser vivida plenamente
sem medo ou terror.
Fui abrir o livro de poemas do Mário e caiu direto nesse:

A MORTE COM SEU HÁLITO FRIO
BAFEJA EM MINHA NUCA
COMO QUEM NÃO QUER NADA
COMO QUEM ESTÁ SÓ DE PASSAGEM
ELA SABE QUE EU NÃO QUERO NADA COM ELA
A VIDA É UMA BELA SACANAGEM
MORRER É UMA PUTA VIADAGEM

Como se ele viesse me dizer: "Fica fria, eu vou sair dessa!" E eu sei que vai.

5.12.09

Depois de algumas horas em estado de choque com a notícia de que o Mário Bortolotto foi baleado, e de ficar catando notícias atualizadas na internet que me dissessem que ele está fora de risco, escrevi um poema torcendo pela sua recuperação. É o que me resta... Ele é forte, vai sair dessa!

Mário,
segura essa, rapaz.
agüenta firme.
tem umas minas chorando por você.
tem uns amigos que hoje não vão beber.
tem até ateu que vai entrar na igreja, você vai ver.
agüenta firme, segura mais essa.
você é forte, rapaz.
eu sei que é.
é um cara que protege.
que merece proteção.
eu queria te proteger.
agora.
te tirar toda a dor.
agora.
trazer logo de volta
sua cara de mau
e o coração de menino.
trazer de volta pra uma mesa de bar.
pra um jogo de bilhar.
agora.
te dar um beijo numa esquina
com o dia amanhecendo.
agora.
te deixar sob o ventilador
com uma moça linda
adormecendo na sua cama.
agora.
te deixar numa janela
ouvindo blues
com um blue label nas mãos.
agora.

te deixar a sós
com o amor da sua vida
te dizendo docemente que te ama.
agora.
te deixar
agora
num lugar qualquer
que seja o melhor lugar pra você.
só pra você não me deixar
com essa angústia no peito
e essa cara de sala de espera.
pra você não me deixar
com essa lágrima parada
no canto do olho
com esse olho parado
na tela
pra você não me deixar.

não deixar essas minas chorando...
e os amigos sem beber...
e os ateus numa igreja
pedindo aos anjos
que te protejam...

3.12.09

ORAÇÃO

nós queríamos ser anjos
mas anjos têm asas
a gente segue voando
e se espatifando no chão
só queríamos ser anjos
mais nada
mas anjos têm asas
pra atravessar a escuridão
só queríamos ser anjos
tocadores de harpas
mas tem uma guitarra
arranhando o coração
anjos, anjos, mais nada
mais uma dose
mais um trago
mais uma droga
um beijo, um escarro
mais um salto
mais um chão
anjos tocadores de harpas
anjos portadores de asas
todos rindo da nossa cara
(verdade ou alucinação?)

2.12.09

DEUS É FODA!!!

Eu (al cientro), Nanda Rosemberg e Aline Vargas
em "Oração", de Fernando Arrabal

- Seremos como anjos.
- Como os bons ou como os outros?
- Os outros não vão para o céu, os outros são os demônios e vão para o inferno.
- E o que eles fazem lá?
- Eles sofrem muito, eles ardem.
- Não vejo nada de novo.